Falta de conexão à rede elétrica ameaça protagonismo do Ceará na transição verde
A negativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para conectar à rede quatro grandes empreendimentos no Ceará ameaça um investimento total de até R$ 115 bilhões e coloca em risco o papel do Brasil na liderança da transição energética global. Entre os projetos impactados estão três de hidrogênio verde (H2V), das empresas Fortescue, Voltalia e Casa dos Ventos, e um data center, também da Casa dos Ventos.
Os projetos aguardavam acesso à rede nacional para avançar, mas esbarraram na falta de infraestrutura. Segundo especialistas, a viabilidade técnica exige a construção de novas linhas de transmissão e subestações, processo que pode levar até oito anos. A diferença de cronograma entre o setor público, que prevê conclusão em 2032, e as empresas, que precisam da rede em operação até 2029, escancara o impasse.
A situação ganhou destaque após a Fortescue, que já possui 70 funcionários atuando no projeto no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, revelar publicamente a negativa do ONS. O Ministério de Minas e Energia reagiu determinando estudos para ampliar a capacidade de transmissão em 4 GW nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Contudo, os prazos continuam incompatíveis com os cronogramas privados.
Em resposta à lentidão federal, o governo do Ceará, liderado por Elmano de Freitas, propôs financiar com recursos próprios ou via PPPs uma linha de transmissão estadual estimada entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões. A proposta, segundo o secretário Domingos Filho, está nas mãos do MME e seria doada à União para acelerar os investimentos estratégicos.
Especialistas e representantes do setor de hidrogênio verde alertam que a morosidade pode custar caro ao Brasil. Fernanda Delgado, da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde, destaca que os atrasos podem inviabilizar o acesso aos incentivos do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, que oferece até R$ 18,3 bilhões. “Sem conexão, não há projeto. E sem projeto, não há investimento nem empregos”, adverte.
O Farol Diário seguirá acompanhando os desdobramentos, aguardando respostas do MME, ONS e da Casa dos Ventos sobre o futuro desses empreendimentos que prometem redefinir o mapa energético do Brasil.