Infraestrutura em risco por falta de pessoal qualificado
A execução de projetos estratégicos nas áreas de transporte, portos e aeroportos em 2025 e 2026 pode ser comprometida por um obstáculo que não está nas estradas ou nos trilhos, mas dentro dos escritórios: a escassez de pessoal. Documentos internos e relatórios obtidos pela Folha de S.Paulo apontam que tanto o Ministério de Portos e Aeroportos quanto a estatal Infra S.A. enfrentam sérias limitações operacionais causadas por quadros defasados e sobrecarregados.
No Ministério de Portos e Aeroportos, a situação é crítica na Coordenação-Geral de Logística e Contratações (CGLC), que opera com apenas 17 servidores para gerir mais de 50 contratos ativos, além de centenas de processos administrativos. O relatório da própria coordenação alerta para o risco de colapso da estrutura, sugerindo a necessidade urgente de triplicar a equipe. Ainda assim, a resposta do governo tem sido tímida: prevê-se apenas a alocação de parte dos aprovados no Concurso Nacional Unificado.
A estatal Infra S.A., peça central do planejamento logístico nacional, também sofre com limitações. Após fusões com outras estatais extintas, herdou servidores fora do perfil técnico ideal e conta com apenas 700 empregados efetivos, muitos dos quais cedidos a outros órgãos. Embora tenha pedido ampliação de seu quadro, a solicitação foi recusada pela Secretaria de Coordenação e Governança das Estatais, por falhas técnicas e orçamentárias no pedido.
O impacto potencial dessa limitação humana é direto: os dois órgãos têm agendas ambiciosas. Somente o Ministério dos Portos e Aeroportos planeja 38 concessões portuárias, 4 arrendamentos de canais e intervenções em 55 aeroportos até 2026. Já a Infra S.A. precisa entregar estudos para 84 projetos, entre rodovias, ferrovias, hidrovias e aeroportos.
O governo, embora alegue estar retomando concursos e ampliando equipes, enfrenta o desafio de conciliar suas metas ambiciosas com o equilíbrio fiscal. Para O Farol Diário, o caso evidencia mais um desequilíbrio estrutural do Estado: não é a falta de projetos ou recursos, mas a burocracia e o inchaço desorganizado que minam a eficiência pública. Sem gestão de pessoal estratégica, a promessa de modernizar a infraestrutura nacional segue, mais uma vez, presa no papel.