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Declaração polêmica sobre pobreza derruba ministra do Trabalho em Cuba

Marta Elena Feitó Cabrera renunciou após reação popular histórica, expondo o colapso social e a crise de legitimidade do regime de Díaz-Canel.

Havana – A ministra do Trabalho e Segurança Social de Cuba, Marta Elena Feitó Cabrera, renunciou nesta terça-feira (15) após declarar que “em Cuba não há mendigos, mas pessoas disfarçadas de mendigos”. A fala, feita durante uma sessão da Assembleia Nacional, gerou indignação generalizada, escancarando o fosso entre o discurso oficial e a realidade vivida pela população.

Imagens de idosos dormindo nas ruas, pessoas revirando lixo e relatos sobre a miséria crescente inundaram as redes sociais em resposta à declaração. A repercussão forçou até o ditador Miguel Díaz-Canel a se pronunciar, reconhecendo pela primeira vez a existência de “vulnerabilidade social” na ilha. Em um regime conhecido por ignorar ou reprimir a crítica pública, a queda de uma ministra por pressão popular marca um fato inédito.

A economista Feitó Cabrera ocupava o cargo desde 2019 e era considerada fiel ao discurso centralizador do regime comunista. Sua tentativa de minimizar a pobreza visível nas ruas de Havana e outras cidades foi vista como insensível e desconectada. Intelectuais e ativistas organizaram abaixo-assinados pedindo sua saída imediata, o que acabou forçando sua renúncia — uma raridade na política cubana, onde os desligamentos geralmente são anunciados como “mudanças administrativas”.

O episódio acontece em meio a um cenário de colapso econômico: escassez de alimentos, remédios, moradia e uma previdência incapaz de sustentar os aposentados. Cerca de dois milhões de cubanos emigraram desde 2022, e mais de 39% dos idosos vivem com menos de cinco dólares por mês, segundo dados de organizações independentes.

A queda de Feitó Cabrera lança luz sobre o desgaste interno do regime e reforça um sentimento crescente de descrença entre os cubanos. A resposta popular demonstra que, mesmo sob censura e repressão, há limites para o cinismo institucional. O Farol Diário seguirá acompanhando os reflexos políticos e sociais dessa renúncia histórica.

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