A indústria de máquinas agrícolas da Argentina enfrenta um cenário desafiador, impulsionado pela queda na demanda interna e pela crescente entrada de produtos vindos do Brasil e da China. A política de abertura comercial adotada pelo atual governo argentino, embora beneficie os consumidores com preços mais acessíveis, tem cobrado seu preço da indústria nacional, que começa a perder competitividade e a reduzir sua atividade.
Segundo dados da Acara, as vendas de colheitadeiras, tratores e pulverizadores caíram entre 11% e 17% em janeiro. Embora haja alguma recuperação em comparação com o fraco desempenho de janeiro de 2024, a retração mensal indica um ritmo preocupante. O impacto mais visível se dá entre os fabricantes locais, que já observam sinais de estagnação e reestruturação, com risco real de perda de empregos.
Atualmente, o setor emprega entre 30 mil e 35 mil pessoas, número bem abaixo dos 45 mil trabalhadores registrados em tempos de maior dinamismo. Pequenas empresas, que fornecem peças para grandes montadoras, são as primeiras a sentir a crise. Com a demanda desaquecida, contratos com terceirizados estão sendo suspensos, e novas contratações parecem improváveis.
O avanço das importações brasileiras — que cresceram mais de 50% em fevereiro — e o apelo irresistível dos preços chineses acentuam a desindustrialização. Bertini, uma das vozes do setor, alerta que a Argentina perdeu há tempos a capacidade de fabricar certas máquinas agrícolas do zero. Hoje, muitos equipamentos são montados no país com autopeças estrangeiras.
Outro fator agravante é a paralisação na liquidação das exportações agrícolas, que secou o ingresso de dólares e intensificou o clima de incerteza no campo. A indefinição sobre a política cambial e o acordo com o FMI faz com que os produtores de soja e milho posterguem vendas, aguardando um cenário mais claro.
Diante de tantas pressões simultâneas, o futuro das fábricas argentinas de maquinário agrícola está em xeque. Se o atual modelo seguir sem ajustes, é possível que muitos fabricantes optem por se tornar apenas importadores, o que reconfiguraria de forma profunda o mapa industrial do país.