Esquerda perde fôlego nas ruas em meio a avanço da direita
Os protestos de rua, outrora uma marca registrada da militância de esquerda no Brasil, enfrentam um momento de estagnação. A dificuldade de mobilização é tamanha que até lideranças petistas reconhecem o desafio. “A gente sua sangue”, admitiu Edinho Silva, prefeito de Araraquara e possível futuro presidente do PT, ao comentar a baixa adesão a atos recentes. A fala ocorreu poucos dias após um protesto contra a anistia aos presos do 8 de Janeiro reunir menos de 7 mil pessoas na Avenida Paulista, apesar da convocação de nomes como Guilherme Boulos e Lindbergh Farias.
Especialistas identificam três momentos-chave para essa transformação: a chegada do PT ao poder em 2002, os protestos apartidários de junho de 2013 e o crescimento global da direita antissistema. Cada um desses fatores contribuiu para minar o poder de convocação dos movimentos de esquerda, que agora precisam recorrer a shows e sorteios para atrair público, como previsto para o 1º de Maio deste ano.
A análise de protestos desde as eleições de 2022 mostra uma vantagem clara para a direita em termos de adesão popular. Enquanto manifestações bolsonaristas conseguem atrair multidões, a esquerda, mesmo com o controle da máquina pública, fracassa em mobilizações massivas. O próprio presidente Lula já criticou a articulação interna do governo após o fiasco de um evento do Dia do Trabalho em 2023.
Acadêmicos apontam ainda que o PT, ao optar por uma postura de conciliação institucional desde que chegou ao poder, perdeu parte da conexão direta com a base popular. Isso se intensificou após 2013, quando as ruas foram “ocupadas” por novos atores sociais fora do espectro tradicional da esquerda, abrindo caminho para uma direita mais orgânica e combativa.
Fora do Brasil, o padrão se repete. Mobilizações de esquerda têm ocorrido majoritariamente em resposta às ações da direita, como na Alemanha e na Hungria, e não como movimentos propositivos. Para analistas ouvidos por O Farol Diário, isso evidencia uma inversão de papéis: a esquerda, antes protagonista, agora reage às pautas impostas pela direita, sem conseguir pautar a agenda pública com a mesma força de outrora.