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Europa financia a guerra que diz combater: o paradoxo russo-ucraniano

Relatório revela que UE gastou mais com combustíveis fósseis da Rússia do que com ajuda direta à Ucrânia em 2024, destacando a contradição entre discurso político e ações econômicas.

Três anos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os impactos econômicos permanecem intensos para ambos os lados do conflito. Novos dados econômicos revelam uma inflação anual de 12% na Ucrânia e 9,5% na Rússia, refletindo a persistência da crise. No entanto, o dado mais surpreendente vem da Europa: em 2024, o bloco destinou mais recursos à compra de petróleo e gás russos do que à ajuda econômica direta à Ucrânia.

Segundo o relatório do Centre for Research on Energy and Clean Air (Crea), a União Europeia gastou cerca de 21,9 bilhões de euros em combustíveis fósseis russos no último ano, enquanto a ajuda financeira à Ucrânia somou 18,7 bilhões de euros, conforme levantamento do IfW Kiel. O contraste expõe uma contradição grave no discurso europeu: enquanto declara apoio à resistência ucraniana, continua financiando indiretamente a máquina de guerra do Kremlin.

Os números mostram que quase metade da arrecadação fiscal da Rússia ainda provém do setor energético. A venda de petróleo e gás, inclusive por meio da chamada “frota sombria”, tem permitido a Moscou manter um fluxo constante de receitas mesmo com as sanções ocidentais. A UE já iniciou sua 16ª rodada de sanções, tentando fechar brechas como o refino de petróleo russo em países terceiros e as importações de gás liquefeito (GNL), cuja dependência europeia aumentou.

Enquanto isso, os dados econômicos sugerem que a Rússia se recupera mais rapidamente do que a Ucrânia. O PIB russo cresceu 3,6% em 2024, após queda inicial de 1,3%. Já a Ucrânia, que viu seu PIB despencar 36% em 2022, ainda opera com níveis 20% abaixo do pré-guerra, apesar de registrar crescimento nos dois últimos anos. O desemprego alto, somado à migração forçada, dificulta a retomada plena do país.

Mesmo assim, analistas apontam um futuro mais promissor para Kiev. A recuperação parcial do setor energético e a integração crescente ao mercado europeu são sinais positivos. A riqueza mineral da Ucrânia, estimada em trilhões de dólares, e o aumento da arrecadação tributária com apoio do FMI indicam que, apesar das adversidades, há fundamentos para uma reconstrução robusta.

A ironia libertária salta aos olhos: enquanto governos europeus pregam valores democráticos e condenam o autoritarismo russo, suas práticas comerciais seguem alimentando o regime de Putin. A lição é clara — políticas públicas que ignoram a lógica econômica acabam por sustentar justamente aquilo que afirmam combater.

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