A escalada tarifária entre Estados Unidos e China, em curso desde os últimos anos, terá reflexos significativos na economia brasileira. Um estudo divulgado nesta segunda-feira (14) por economistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que o país sofrerá perdas de US$ 4,9 bilhões, especialmente na indústria e nos serviços, apesar de ganhos relevantes no setor agrícola.
Conduzido pelos pesquisadores Edson Paulo Domingues, João Pedro Revoredo Pereira da Costa e Aline Souza Magalhães, do grupo Nemea-Cedeplar-UFMG, o levantamento avaliou cenários de aumento drástico nas tarifas de importação entre as duas potências globais. As simulações indicam que São Paulo e Minas Gerais serão os estados mais prejudicados, com perdas industriais estimadas em R$ 4 bilhões e R$ 1,16 bilhão, respectivamente.
Em contraste, as regiões produtoras de soja no Centro-Oeste e no Rio Grande do Sul devem ser as grandes beneficiadas, com alta de até 28% nas exportações do grão. Mesmo assim, o saldo para o Brasil seria negativo. No setor agrícola, os ganhos são de US$ 5,5 bilhões, mas a indústria amarga perdas de US$ 8,8 bilhões e os serviços, US$ 1,6 bilhão. O impacto líquido nas exportações é igualmente desigual: alta de US$ 6,6 bilhões na agropecuária frente a uma queda de US$ 6,4 bilhões na indústria e de US$ 2,2 bilhões nos serviços.
Segundo o estudo, embora o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro apresente um leve crescimento de 0,01% no cenário projetado, os efeitos regionais e setoriais são preocupantes. O setor industrial, mais exposto à concorrência e à retração global, seria o mais atingido. Produtos como metais ferrosos, equipamentos de transporte, produtos químicos e farmacêuticos lideram as quedas nas exportações.
O levantamento também dimensiona o impacto global da guerra tarifária, com uma redução de 0,25% no PIB mundial e uma retração de 2,38% no comércio internacional — perdas equivalentes a US$ 205 bilhões e US$ 500 bilhões, respectivamente. Para os Estados Unidos e a China, a conta também chega: quedas de 0,7% e 0,6% nos respectivos PIBs.
A análise, publicada com exclusividade por O Farol Diário, serve como alerta para a vulnerabilidade de economias como a brasileira frente a disputas comerciais entre potências, revelando a necessidade de políticas mais autônomas e menos dependentes de oscilações externas.