Geração Z fora do radar: 289 milhões de jovens em todo o mundo estão sem estudar e sem trabalhar. O fenômeno, conhecido como “nem-nem”, atinge proporções alarmantes e expõe uma desconexão profunda entre as promessas de um sistema educacional e de trabalho e a realidade vivida pelos jovens. Em países como os Estados Unidos, onde mais de 4,3 milhões de jovens estão nessa situação, e na Espanha, com cerca de 930 mil, o que antes era uma exceção começa a parecer a nova norma.
Especialistas ouvidos por O Farol Diário apontam que a causa não está nos jovens em si, mas em estruturas que não acompanharam a revolução digital nem as mudanças sociais da última década. Faculdades cada vez mais caras e descoladas do mercado, empregos precarizados e um ambiente de promessas não cumpridas fazem com que muitos optem por rotas alternativas. Uma pesquisa recente indica que metade da Geração Z já vê o ensino superior como um investimento pouco inteligente.
Essa descrença tem levado jovens a reavaliar suas prioridades. Em vez de seguir carreiras em tecnologia, outrora símbolo de inovação e estabilidade, muitos estão migrando para empregos técnicos, como eletricistas, mecânicos e encanadores — profissões que, embora tradicionalmente menos valorizadas, hoje oferecem estabilidade e rendimentos atrativos. Trata-se de uma guinada pragmática em uma geração marcada por frustração e ansiedade.
A ascensão da inteligência artificial e o desaparecimento de profissões tradicionais também contribuem para esse cenário instável. O modelo educacional, rígido e engessado, deixa de preparar os jovens para uma economia em rápida mutação. Sem formação aplicável e sem perspectivas, o risco de uma geração desiludida cresce — e com ela, o impacto social e psicológico, como alerta a ONU.
Para Jeff Bulanda, da organização Jobs for the Future, o problema é sistêmico: “A questão não é por que os jovens estão se desligando, mas por que insistimos em práticas que claramente não funcionam mais.” A crise dos nem-nem, portanto, não é apenas um desafio econômico. É o reflexo de uma falência institucional que exige uma revisão profunda da forma como preparamos os jovens para a vida adulta.
O Farol Diário seguirá acompanhando de perto esse fenômeno que, se ignorado, poderá comprometer não só o futuro de milhões, mas a própria estabilidade das sociedades modernas.
fonte: https://ilostat.ilo.org/blog/assessing-the-current-state-of-the-global-labour-market-implications-for-achieving-the-global-goals/