O segundo 1º de Maio sob o terceiro mandato de Lula reafirmou um incômodo que já não se pode ignorar: o presidente operário não consegue mais se conectar com o novo perfil do trabalhador brasileiro. O evento das centrais sindicais, esvaziado e anacrônico, evidenciou a desconexão entre um governo preso a um passado sindical e uma força de trabalho que já vive em outro tempo.
A transformação do mundo do trabalho — impulsionada pela tecnologia, urbanização, mudanças culturais e pelo avanço do empreendedorismo informal — criou um contingente cada vez maior de jovens autônomos, avessos ao vínculo empregatício formal e desconfiados do Estado. Esse novo trabalhador, muitas vezes evangélico e morador de grandes centros, rejeita o sindicalismo tradicional e nutre ceticismo em relação à esquerda, mesmo quando já foi beneficiado por políticas públicas petistas no passado.
As falhas do governo em dialogar com essa camada produtiva se acumulam. Ao não reformular sua linguagem, canais e prioridades, o Planalto entrega à oposição a narrativa sobre quem realmente representa o trabalhador moderno. A crise no INSS, com denúncias de fraudes bilionárias em aposentadorias e pensões, acentua esse fosso. Para esse público, a distinção entre erros da era Bolsonaro e a atual gestão petista é irrelevante — o que se fixa é a imagem de mais um escândalo envolvendo o Estado e seus aliados.
A forma como o ministro Carlos Lupi lida com a situação — alternando descaso e improviso — só piora o desgaste. Enquanto isso, Lula permanece em silêncio, e a Casa Civil, sob Rui Costa, falha em assumir a coordenação de uma resposta concreta. Em vez de liderar, o governo parece correr atrás do prejuízo, sem saber a quem falar ou o que propor.
Se o objetivo é reconquistar a confiança do novo trabalhador, será preciso mais do que nostalgia sindical. É hora de escutar quem vive na ponta, repensar o papel do Estado e reconhecer que o Brasil produtivo de hoje já não cabe mais nas fórmulas da década de 80. O Farol Diário seguirá atento a essa desconexão que pode custar caro ao projeto político do atual governo.