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Moradores de condomínio em Madureira são coagidos por traficantes a pagar “mensalidade de segurança”

Polícia Civil investiga denúncia de que criminosos do Complexo da Serrinha impõem cobrança mensal a moradores da zona norte do Rio; prática lembra atuação de milícias.

Moradores de um condomínio em Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro, estariam sendo coagidos a pagar uma taxa mensal de R$ 1.800 a traficantes da comunidade São José, área controlada pela facção Terceiro Comando Puro (TCP). A informação veio à tona após o síndico do prédio convocar uma assembleia extraordinária para discutir a aprovação do pagamento, alegando que a medida visa prevenir invasões e assaltos promovidos por criminosos contra condomínios que se recusam a colaborar.

O caso será investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que confirmou a abertura de um inquérito. Segundo a Polícia Civil, o síndico será intimado nos próximos dias para prestar depoimento. Por razões de segurança, seu nome não foi divulgado à imprensa, e ele também não foi localizado para comentar o episódio.

A prática de extorsão por traficantes em comunidades dominadas por facções não é novidade no Rio. Em 2020, o mesmo Complexo da Serrinha foi palco de cobranças mensais de até R$ 4.000 a comerciantes locais — modus operandi semelhante ao utilizado por milícias, o que acende um alerta para a crescente convergência entre métodos do tráfico e da milícia.

De acordo com as investigações da Draco, a quadrilha do Complexo da Serrinha é liderada por Wallace Brito Trindade, o “Lacoste”, e William Yvens da Silva, o “Coelhão”. Ambos são conhecidos pelas ações de extorsão contra moradores e empresas da região, expandindo seu domínio econômico sob a ameaça constante da violência armada.

O caso expõe, mais uma vez, o vácuo de autoridade nas áreas controladas pelo crime organizado, onde o Estado é ausente e os cidadãos se veem obrigados a negociar com facções para garantir o mínimo de segurança. A situação reacende o debate sobre a falência da política de segurança pública no Rio de Janeiro — e também sobre até onde vai a conivência de gestores que, ao invés de recorrer às autoridades, buscam oficializar acordos com criminosos.

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