Apesar da significativa redução no desmatamento da Amazônia brasileira entre 2022 e 2024, o avanço expressivo da degradação florestal reverteu os ganhos ambientais no período, segundo artigo publicado na revista Global Change Biology. O estudo, assinado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e instituições internacionais, alerta que esse “saldo negativo” compromete os compromissos climáticos do Brasil, às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA).
Enquanto o desmatamento caiu 54,2% em dois anos, a degradação – provocada principalmente por incêndios – cresceu 163% no mesmo período. Em 2023, mais de 25 mil quilômetros quadrados de floresta foram degradados, uma área superior ao estado de Sergipe. Os incêndios, responsáveis por dois terços desses danos, se intensificaram com a seca severa que afetou a Amazônia entre 2023 e 2024, período que registrou o maior número de focos de calor desde 2007.
Diferente do desmatamento, que elimina a floresta visivelmente, a degradação enfraquece silenciosamente sua integridade, dificultando a detecção e monitoramento. Segundo os autores, isso ameaça a biodiversidade e reduz a capacidade da floresta de regular o clima e capturar carbono – funções cruciais para o cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) assumidas pelo Brasil.
Pesquisas anteriores já apontavam que quase 40% das florestas em pé estão afetadas por formas de degradação. As emissões de carbono decorrentes desse processo podem ser tão altas quanto as causadas pelo desmatamento, chegando a 200 milhões de toneladas de CO2 por ano. Isso coloca em xeque o compromisso brasileiro de reduzir entre 59% e 67% das emissões líquidas até 2035, em relação aos níveis de 2005.
O estudo recomenda uma combinação de medidas urgentes: manejo de incêndios, reflorestamento em larga escala, e incentivos via mercado de crédito de carbono. Também destaca a necessidade de políticas públicas mais robustas e mecanismos para responsabilizar infratores. Para o pesquisador Luiz Aragão, do Inpe, a liderança brasileira no cenário climático global depende diretamente de ações efetivas de combate à degradação.
O jornal O Farol Diário continuará acompanhando os desdobramentos desse tema central à agenda ambiental brasileira e internacional, especialmente no contexto da COP30, que pode representar uma oportunidade crítica de reorientação estratégica.