Conafer na mira: novas denúncias expõem abusos contra funcionários em entidade investigada pela PF
Funcionários da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares (Conafer), já conhecida por seu envolvimento no escândalo bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), agora denunciam um ambiente de trabalho tóxico, com pressão psicológica, atraso de salários, desvios de função e até obrigatoriedade de contribuições sindicais. Os relatos, obtidos com exclusividade por O Farol Diário, revelam um padrão de conduta interna que agrava ainda mais a situação da entidade no centro da Operação Sem Desconto.
Segundo os denunciantes, o estopim da crise interna ocorreu em janeiro de 2025, quando a Conafer comunicou que todos os funcionários seriam automaticamente filiados à instituição, mediante desconto compulsório de 2,8% do salário mínimo. Quem se recusou à filiação também teve o valor abatido. Após denúncias anônimas ao Ministério Público do Trabalho, os descontos teriam sido suspensos, mas os valores já retirados não foram devolvidos.
O ambiente relatado pelos funcionários é de medo constante. Gestores que não cumprem metas mensais de novas filiações são suspensos ou punidos com descontos salariais. Documentos internos assinados pelo presidente da entidade, Carlos Roberto Ferreira Lopes, demonstram ameaças de demissões em massa para forçar o cumprimento das metas. “Desde a visita da Polícia Federal, o clima é de silêncio e intimidação”, afirmou um dos entrevistados sob condição de anonimato.
Outro ponto controverso é a obrigatoriedade de todos os colaboradores receberem seus salários pelo Terra Bank, banco cujo sócio-administrador, Cícero Marcelino, foi citado pela Polícia Federal como operador do esquema fraudulento. Além disso, há denúncias de atrasos frequentes nos pagamentos e péssimas condições de trabalho, como a falta de água no prédio da sede da Conafer, obrigando os funcionários a utilizarem banheiros de estabelecimentos vizinhos.
O escândalo da Conafer é peça-chave na rede de fraudes contra o INSS, conforme revelado pelo portal Metrópoles em dezembro de 2023. A entidade saltou de 42 mil para quase 280 mil filiados em plena pandemia, período de baixa fiscalização, facilitando o golpe. Estima-se que aposentados e pensionistas tenham tido até R$ 77 descontados por mês sem consentimento, gerando uma arrecadação de R$ 2 bilhões em um ano.
Apesar da gravidade das novas denúncias, nem a Conafer nem o Ministério Público do Trabalho retornaram os pedidos de esclarecimento enviados por O Farol Diário. Enquanto isso, os trabalhadores seguem expostos a práticas que, segundo eles, violam seus direitos básicos e revelam uma cultura organizacional baseada na coação e no descaso.