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França gera polêmica ao anunciar prisão de segurança máxima na Guiana Francesa

Projeto de presídio em Saint-Laurent-du-Maroni é visto por líderes locais como imposição colonial e “depósito de criminosos”

O governo francês provocou indignação na Guiana Francesa ao anunciar a construção de uma prisão de segurança máxima em Saint-Laurent-du-Maroni, na selva amazônica, destinada a traficantes de drogas e condenados por radicalismo islâmico. O projeto, orçado em US$ 450 milhões (R$ 2,5 bilhões), incluirá um anexo de 60 vagas com regime prisional rigoroso, das quais 15 serão reservadas a presos por terrorismo. A unidade deve ser inaugurada em 2028, conforme informou o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, ao Journal du Dimanche.

A decisão reacendeu memórias da antiga colônia penal francesa na região e foi recebida com forte oposição por líderes locais, que alegam não terem sido consultados. Para Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, trata-se de um ato de desrespeito à população local. Segundo ele, o acordo inicial, assinado em 2017, previa uma prisão comum para combater a superlotação carcerária — não uma instalação de segurança máxima para prisioneiros vindos da França continental.

A nova prisão será construída nas imediações do histórico Campo Penal de Saint-Laurent-du-Maroni, que funcionou entre os séculos XIX e XX e ficou famoso pela obra Papillon. Hoje, a cidade é um ponto estratégico no narcotráfico internacional por sua proximidade com o Brasil e o Suriname, além de registrar alto índice de violência — 20,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2023, a maior taxa proporcional da França.

Darmanin defende que a prisão “servirá para isolar permanentemente os chefes das redes de tráfico de drogas”, argumentando que a localização remota favorece o corte de vínculos com organizações criminosas. No entanto, críticos locais consideram a justificativa uma tentativa disfarçada de transferir o problema da segurança pública da metrópole para os territórios ultramarinos.

O deputado Jean-Victor Castor classificou a iniciativa como “uma provocação política e um retrocesso colonial”. Ele pede a retirada imediata do projeto e afirma que o envio de radicais islâmicos para a região é um “insulto à história” da Guiana Francesa, que há décadas lida com as cicatrizes do passado penal.

A polêmica reacende o debate sobre o papel dos territórios ultramarinos na política francesa e levanta questões sobre autonomia local, memória histórica e os limites da autoridade central — pontos que, segundo analistas consultados por O Farol Diário, revelam tensões mal resolvidas do modelo republicano francês.

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