A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) determinou a suspensão de todos os voos da Rede Postal Noturna (RPN) operada pelos Correios. A medida, que passa a valer oficialmente em 4 de junho, vem sendo parcialmente aplicada desde maio, devido à inadimplência da estatal com empresas aéreas. A decisão ocorre após o descumprimento das normas de transporte seguro de itens com baterias de lítio — fator ligado a um incêndio a bordo de uma aeronave cargueira em novembro de 2023.
O incidente, envolvendo um Boeing 737-400F da Total Linhas Aéreas, forçou um pouso de emergência em Guarulhos (SP) e levantou sérias dúvidas sobre a responsabilidade dos Correios no envio de cargas perigosas. Segundo investigação do portal AEROIN, os protocolos de segurança só passaram a ser revistos após o acidente, evidenciando uma conduta reativa e despreocupada diante dos riscos à vida e à infraestrutura aérea nacional.
Apesar de ser uma empresa pública com tradição no transporte postal noturno, os Correios operavam sem procedimentos essenciais, como o uso de raio-X nas encomendas com risco químico. Em um exemplo citado por jornalistas, uma remessa contendo bateria de lítio foi despachada sem o devido tratamento até o início deste ano. Isso demonstra que a estatal atuava em desacordo com as normas da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), colocando aeronaves e tripulações em perigo.
Além das falhas operacionais, a RPN já enfrentava uma crise logística devido à inadimplência da própria estatal, que deixou de pagar por rotas contratadas com companhias aéreas privadas. Agora, com a suspensão imposta pela ANAC, o sistema de entregas rápidas sofre um novo abalo — expondo, mais uma vez, as dificuldades de eficiência que cercam empresas estatais brasileiras.
A decisão reforça a necessidade de um debate mais amplo sobre a responsabilidade estatal em setores estratégicos, como o transporte aéreo de cargas. O Farol Diário seguirá acompanhando os desdobramentos do caso, que pode servir como mais um alerta sobre os riscos da gestão ineficiente e centralizada no setor público.