A era da redução de arsenais nucleares, que marcou o cenário global desde o fim da Guerra Fria, está oficialmente encerrada. É o que aponta o novo relatório divulgado nesta segunda-feira (16) pelo Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI), referência mundial no monitoramento de armamentos. A pesquisa anual, acessada pela agência Reuters, revela um aumento preocupante na modernização e expansão dos estoques atômicos das grandes potências, ao mesmo tempo em que tratados históricos de controle de armas são abandonados.
Segundo o SIPRI, das 12.241 ogivas nucleares estimadas no início de 2025, cerca de 9.614 permanecem prontas para uso militar — sendo 2.100 em alerta operacional máximo, especialmente nos arsenais dos Estados Unidos e da Rússia. Juntas, essas duas nações concentram 90% das armas atômicas do mundo e continuam investindo pesado em programas de modernização, sem sinais de desescalada.
A China, por sua vez, aparece como protagonista da nova corrida armamentista. O relatório estima que o país asiático adiciona 100 novas ogivas por ano desde 2023 e pode, até o fim da década, igualar o número de mísseis balísticos intercontinentais dos EUA e da Rússia. Também Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel demonstram intenções claras de modernizar seus estoques nucleares, ampliando o clima de tensão global.
O enfraquecimento de tratados internacionais, como o INF (encerrado em 2019) e a estagnação do Novo START, ajuda a compor o cenário de retrocesso. No lugar do multilateralismo e da diplomacia, cresce a lógica da dissuasão agressiva. O Farol Diário observa que esse cenário não apenas sinaliza um retorno a padrões da Guerra Fria, mas indica uma escalada ainda mais instável e imprevisível.
O relatório do SIPRI chega em um momento crítico, em que conflitos regionais como o da Ucrânia e as tensões no Oriente Médio criam riscos concretos de confrontos entre potências armadas nuclearmente. A ausência de posicionamento oficial de líderes como Donald Trump, conhecido por sua retórica nacionalista e desconfiança em relação a pactos multilaterais, apenas reforça a incerteza quanto ao futuro da paz global.
Em tom de alerta, o SIPRI conclui com um apelo: é urgente a retomada das negociações de desarmamento. Mas, por enquanto, os dados falam por si — o planeta avança para uma era nuclear marcada por menos diálogo, mais armas e riscos cada vez maiores.