Assunção (Paraguai) — Durante a 66ª Cúpula do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou atenção ao não agendar um encontro bilateral com o presidente da Argentina, Javier Milei. A ausência de diálogo entre os dois líderes expõe a crise diplomática entre os vizinhos e ocorre em um momento delicado para o bloco, que enfrenta desafios políticos e econômicos na região.
Apesar da histórica parceria entre Brasil e Argentina — o país é o terceiro maior parceiro comercial brasileiro —, Lula preferiu manter distância do presidente argentino, com quem não tem relações formais desde a posse de Milei, em dezembro de 2023. Na época, o evento contou com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, enquanto Lula optou por não comparecer. Desde então, os dois chefes de Estado vêm trocando farpas públicas.
O impasse diplomático se agravou após declarações de Milei, que chamou Lula de “ladrão” e “dinossauro idiota”. O argentino não recuou nem pediu desculpas, afirmando que apenas disse “verdades”. O episódio travou qualquer tentativa de aproximação oficial entre os dois governos, gerando críticas sobre os impactos da disputa ideológica na condução da política externa brasileira.
Enquanto evita Milei, Lula avalia visitar a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, atualmente em prisão domiciliar após condenação por corrupção. Kirchner foi sentenciada a seis anos por favorecer empreiteiras em 51 contratos de obras públicas durante seus mandatos. A possível visita levanta questionamentos sobre os critérios diplomáticos do governo brasileiro, que prioriza afinidades ideológicas mesmo em casos envolvendo corrupção.
A situação lembra outro episódio polêmico: em abril, o governo Lula autorizou o uso de um avião da Força Aérea Brasileira para buscar a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na ocasião, o gesto também gerou críticas por suposta leniência com figuras políticas condenadas.
Com essas movimentações, o Brasil sinaliza uma política externa que, em vez de buscar equilíbrio entre interesses nacionais e alianças estratégicas, parece guiada por conveniências políticas. Para analistas, a postura do presidente brasileiro pode enfraquecer a posição do país no Mercosul e comprometer a capacidade de liderança regional.