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“Risco PCC” preocupa mercado e afasta investidores estrangeiros do Brasil

Penetração do crime organizado em setores produtivos e fragilidade do Estado elevam temor de investidores e pressionam governo por medidas mais eficazes

A crescente infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em setores da economia formal brasileira começa a repercutir no cenário internacional, criando um novo fator de preocupação para investidores: o chamado “risco PCC”. De fintechs a transportes públicos, passando por redes de combustíveis e até participação em licitações, o avanço da facção paulista reacende o debate sobre os limites da ação do Estado e o impacto da criminalidade organizada na competitividade e segurança dos negócios no país.

Relatório conjunto da Fiesp e da CNI estimou que, apenas em 2022, o crime organizado gerou um prejuízo de R$ 453,5 bilhões com sonegação, contrabando, pirataria e fraudes. A percepção do mercado é que o crime deixou de atuar nas sombras e passou a operar com aparente legalidade, utilizando estruturas empresariais próprias para lavar dinheiro e se infiltrar em áreas estratégicas. Essa nova realidade já levou investidores estrangeiros a exigir informações sobre o impacto da atuação criminosa antes de aplicar recursos em empresas brasileiras.

As fragilidades regulatórias agravam o quadro. Apenas 334 das 1.592 fintechs atuantes no país estão sob supervisão do Banco Central, o que abre brechas para esquemas de lavagem de dinheiro. Em paralelo, o Coaf segue com um quadro reduzido de servidores, incapaz de lidar com a explosão de transações suspeitas — mais de 27 mil casos por analista, apenas em 2024. Segundo especialistas, o Estado brasileiro ainda subestima a gravidade do problema e falha em oferecer uma resposta institucional à altura.

Enquanto promotores alertam para a profissionalização do crime, que agora disputa espaço com empresas formais em licitações públicas, alguns membros do Judiciário propõem medidas mais duras, como uma lei antimáfia nos moldes italianos. Contudo, a própria desembargadora Ivana David reconhece: “O Brasil demorou a acreditar no PCC, e a facção foi crescendo”. A ausência de uma política clara de controle de fronteiras também torna o país vulnerável à entrada de drogas, dinheiro e influência estrangeira.

A situação preocupa até os Estados Unidos, que cogitam classificar o PCC como organização terrorista — o que pode trazer sérias consequências jurídicas e comerciais para bancos e empresas brasileiras com qualquer vínculo, mesmo que indireto, com a facção. Para o professor Leandro Piquet, da USP, o Brasil precisa parar de ignorar seus vizinhos sul-americanos e investir mais em inteligência regional: “Ficamos falando de Ucrânia, mas não conseguimos identificar a origem da cocaína que entra pela nossa fronteira”.

O Ministério da Justiça alega que já causou um prejuízo de R$ 4,1 bilhões ao crime organizado apenas em 2025, mas ainda evita debater abertamente as brechas do sistema. Já a Febraban defende uma regulação mais rígida e célere das fintechs para garantir isonomia no setor. O Farol Diário seguirá monitorando os desdobramentos deste novo risco que ameaça a economia brasileira — de fora e por dentro.

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