O Farol Diário – Um novo escândalo envolvendo forças de segurança no Rio de Janeiro abalou a credibilidade da Polícia Militar: onze agentes do 39º BPM de Belford Roxo foram denunciados pelo Ministério Público (MP) por envolvimento em uma série de crimes, incluindo extorsão, associação com milicianos e atuação como seguranças privados durante o expediente. Nove policiais foram presos na operação deflagrada nesta semana; dois seguem foragidos.
As investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) revelam um esquema que funcionou entre 2021 e 2024. De acordo com o MP, comerciantes da cidade pagavam aos PMs para garantir “proteção”, criando uma relação de dependência econômica e desigualdade no acesso à segurança pública. Os clientes eram informalmente chamados de “padrinhos”, e o policiamento só aparecia — literalmente — nos dias de pagamento da propina.
Mais grave ainda é a revelação de que os policiais mantinham acordos com milicianos locais, inclusive com repasses regulares de dinheiro em troca de impunidade. Um dos PMs, Rafael da Silva Santos, foi flagrado em contato direto com criminosos armados para recolher valores semanalmente. Também foram identificadas extorsões a traficantes, com pedidos de até R$ 10 mil para “liberar” prisões, que só não aconteceram porque foram testemunhadas por muitos moradores.
Entre os acusados está Rafael da Fonseca Carvalho, que atuou como segurança da ex-ministra e atual deputada federal Daniela do Waguinho (União). Ele foi cedido oficialmente à Prefeitura de Belford Roxo até abril deste ano, com aval da corporação. A deputada, até o momento, não se manifestou sobre o caso.
O áudio de um dos envolvidos escancara o clima de intimidação. Ao exigir propina de um comerciante, o PM afirma: “Isso aqui não é milícia, não, cara. Pior que milícia. Se não quiser dar os R$ 100 vai dar merda.” A frase, que deveria causar indignação nacional, parece sintetizar a deterioração institucional em certos setores da segurança pública.
Enquanto o Estado finge garantir ordem e legalidade, parte de sua estrutura age como grupo mafioso armado, protegido por fardas e com acesso a informações e armas públicas. A crítica libertária se impõe: quando o poder público se torna indistinguível do crime organizado, a sociedade perde qualquer esperança de justiça isonômica — e quem mais sofre são os cidadãos comuns, abandonados à própria sorte.