Brasília – Em meio a um cenário de restrições orçamentárias e derrotas políticas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assinou uma portaria que limita diversas despesas dentro da própria pasta até o fim de 2025. A medida, publicada no Diário Oficial da União na última segunda-feira (7), impõe cortes em eventos, treinamentos, contratações e até em serviços básicos como telefonia e aquisição de bens. No entanto, Haddad manteve uma exceção notável: o direito de viajar em classe executiva, com passagens que chegam a custar três vezes mais que a tarifa econômica.
A decisão, rapidamente criticada por parlamentares da oposição e nas redes sociais, levanta dúvidas sobre a coerência da chamada “racionalização de gastos”. Apesar de o texto falar em contenção de despesas, a portaria não traz nenhuma estimativa de quanto se pretende economizar, deixando margem para questionamentos quanto à efetividade e à isonomia da medida.
O momento político não poderia ser mais delicado. Pouco antes da publicação da norma, o governo sofreu uma derrota no Congresso com a revogação de um decreto que aumentava o IOF. A tentativa de ampliar a arrecadação em ano fiscal apertado foi barrada pelos parlamentares e, posteriormente, teve seus efeitos suspensos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que convocou uma audiência de conciliação entre os Poderes para o próximo dia 15.
A nova portaria determina a suspensão de uma série de atividades, incluindo treinamentos de servidores, contratações de estagiários, obras físicas, aquisição de mobiliário e até assinaturas de agências de notícias. No entanto, a norma abre exceções para despesas consideradas inadiáveis — entre elas, as passagens aéreas do alto escalão.
A postura de Haddad expõe uma contradição frequentemente criticada por setores liberais: enquanto o discurso de austeridade atinge a base do funcionalismo e limita serviços básicos do Estado, os privilégios da elite política permanecem intocados. O Farol Diário seguirá atento aos desdobramentos dessa política de economia seletiva.