Lisboa recebeu, na última semana, mais uma edição do Fórum Jurídico organizado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, com presença de ao menos 36 parlamentares brasileiros – dos quais apenas 11 atuaram como palestrantes. Apesar da baixa participação ativa, a conta da viagem ao exterior pode ultrapassar os R$ 760 mil, segundo dados obtidos por O Farol Diário. O evento, informalmente chamado de “Gilmarpalooza”, ocorre anualmente e tem sido cada vez mais criticado pelos altos custos envolvidos e pela participação seletiva de autoridades.
A organização ficou por conta do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), presidido por Francisco Mendes, filho do ministro. A FGV e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa também colaboraram. Com 2,5 mil inscritos e cerca de 400 palestrantes, o evento isentou políticos do pagamento da inscrição, que era de R$ 800 para o público geral.
Apenas 11 congressistas dos 36 que tiveram suas despesas pagas pela Câmara ou pelo Senado subiram ao palco como palestrantes. Outros participaram sem custos aos cofres públicos ou com apoio logístico, como o uso de aeronaves da FAB. A Câmara pagou passagens para 18 deputados, com uma média de R$ 18 mil por pessoa. As diárias variaram de R$ 5,9 mil a R$ 21,6 mil, com valor médio de R$ 12,3 mil.
Os gastos mais elevados chamam atenção. O senador Irajá (PSD-TO) teve a passagem mais cara: R$ 41,1 mil. Já a senadora Daniella Ribeiro (PP-PB) recebeu as diárias mais altas: R$ 21,6 mil. A parlamentar ainda será reembolsada em mais R$ 18 mil por ter estendido sua viagem ao Marrocos para outro evento. Outro destaque foi o deputado Odair Cunha (PT), que gastou R$ 14 mil por quatro dias e meio de permanência em Lisboa.
Embora algumas autoridades afirmem que os encontros representam intercâmbio acadêmico e jurídico de alto nível, o uso de recursos públicos para uma viagem internacional com baixa produtividade prática levanta questionamentos. A iniciativa, mais uma vez, evidencia a dificuldade do Congresso em justificar gastos que extrapolam o bom senso, especialmente em tempos de ajuste fiscal e cobrança por transparência.