A decisão do Carrefour França de suspender a comercialização de carnes oriundas do Mercosul desencadeou uma crise sem precedentes no setor. A medida foi anunciada pelo CEO global do grupo, Alexandre Bompard, como parte de um esforço para atender às demandas de agricultores franceses, alegando questões ambientais e padrões de produção. No entanto, no Brasil, a declaração foi recebida como um ataque político e protecionista, levando a uma resposta contundente dos frigoríficos brasileiros.
Grandes nomes do setor, como JBS, Marfrig e Masterboi, decidiram interromper o fornecimento de carne às operações brasileiras do Carrefour. Essa retaliação afetou diretamente lojas como Atacadão e Sam’s Club, que já enfrentam falta de cortes bovinos em diversas unidades, conforme noticiado pelo Estadão. Segundo fontes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), a paralisação pode se intensificar caso não haja uma retratação oficial da empresa.
Uma Retaliação ao ‘Boicote ao Mercosul’
O movimento da indústria brasileira foi amplamente apoiado por outras entidades. Restaurantes, hotéis e a Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp) também aderiram ao boicote, incentivando seus associados a suspenderem relações comerciais com o Carrefour. Segundo empresários do setor, a medida francesa é vista como uma tentativa de enfraquecer o acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia, que projeta um impacto positivo de 0,45% no PIB brasileiro ao longo das próximas duas décadas.
O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou que o episódio não é isolado. Ele apontou para ações semelhantes de empresas como Danone, que recentemente declarou ter suspendido compras de soja brasileira, intensificando o clima de desconfiança em relação à União Europeia. Fávaro classificou as medidas como parte de uma estratégia orquestrada para proteger mercados europeus sob o pretexto de preocupações ambientais.
Impactos Econômicos e Diplomáticos
O Carrefour enfrenta um cenário desafiador. O Brasil é seu segundo maior mercado global, gerando € 21,5 bilhões de faturamento em 2022, quase equivalente às operações do grupo em toda a Europa (excluindo a França). Especialistas consideram a decisão do CEO global como contraditória, colocando em risco a imagem da rede no Brasil, onde sua presença é estratégica.
Apesar de o Carrefour ter declarado que a decisão se aplica apenas às lojas na França, a repercussão global transformou a situação em um impasse político e diplomático. A suspensão do fornecimento no Brasil representa um alerta para a multinacional, que agora precisa gerenciar não apenas danos comerciais, mas também a deterioração de sua relação com parceiros estratégicos locais.
O Que Está em Jogo?
A crise reforça o papel do Brasil como um dos maiores exportadores de proteínas do mundo e levanta questões sobre barreiras comerciais disfarçadas de preocupações ambientais. A indústria brasileira exige uma retratação clara e objetiva do Carrefour, enquanto o governo busca reforçar a posição do Mercosul nas negociações com a União Europeia.
Com as tensões em alta, resta saber se o Carrefour cederá às pressões ou se a crise se aprofundará, prejudicando ainda mais a imagem da marca e suas operações em um mercado vital como o brasileiro.
