O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), gerou polêmica ao sugerir que magistrados, membros do Ministério Público e políticos deveriam usar câmeras corporais, assim como policiais. Em entrevista à Rádio CBN Cuiabá, Mendes defendeu que, se a vigilância é aplicada para coibir irregularidades nas forças de segurança, o mesmo princípio deveria ser estendido a todos os servidores públicos. “Tem juiz que foi flagrado vendendo sentença, assim como desembargador. Então, vamos botar câmeras em todos os juízes e em todos os desembargadores”, declarou o governador.
A proposta de Mendes ocorre em meio a debates sobre o uso de câmeras por policiais, prática adotada para aumentar a transparência nas abordagens. O governador argumentou que apenas uma minoria de policiais comete desvios de conduta e, por isso, seria coerente estender o monitoramento a políticos e integrantes do Judiciário. “Também vamos colocar câmeras em todos os políticos, como governadores, prefeitos, deputados estaduais”, completou.
As declarações, porém, foram duramente criticadas pelo Judiciário. O presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), desembargador José Zuquim Nogueira, classificou a fala como “irresponsável” e acusou o governador de atacar as instituições de Justiça. A Associação Mato-Grossense de Magistrados (Amam) também repudiou a proposta e anunciou que tomará medidas judiciais cabíveis, afirmando que a comparação entre policiais e juízes foi “lamentavelmente ofensiva”.
A reação do Judiciário ocorre em um contexto delicado para o setor em Mato Grosso. No ano passado, o TJ-MT foi alvo de investigações da Polícia Federal sobre um suposto esquema de venda de sentenças, que resultou no afastamento de dois desembargadores. Além disso, os altos salários dos magistrados, que ultrapassam o teto constitucional, também têm sido motivo de questionamento. A proposta de Mendes, embora polêmica, reacende o debate sobre a transparência e fiscalização de todos os poderes.