O lulismo e a base popular de Lula
Passados mais de 20 anos desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu alinhamento com a base mais pobre da sociedade brasileira continua sólido. Essa conexão, batizada de “lulismo” pelo cientista político André Singer, ainda encontra apoio significativo entre famílias com renda de até dois salários mínimos. Contudo, esse vínculo se enfraquece conforme a renda dos eleitores aumenta, revelando um desafio estrutural para o governo e o Partido dos Trabalhadores.
Segundo Singer, o “lulismo” reflete um realinhamento eleitoral iniciado em 2006, quando a base da pirâmide social elegeu Lula como seu representante. No entanto, a insatisfação cresce nas classes com rendas mais altas, onde o apoio ao governo despenca para 27%. Singer aponta o aumento do custo de vida e a precarização do mercado de trabalho como causas dessa insatisfação, fenômenos que, segundo ele, têm raízes globais.
O impacto das transformações do trabalho
O avanço do trabalho por plataformas e a fragmentação da classe trabalhadora desafiam a atuação histórica do PT. Singer argumenta que o partido, nascido da tradição sindical, enfrenta dificuldades para dialogar com trabalhadores cada vez mais desorganizados. A transformação tecnológica e a desindustrialização criaram um cenário onde jovens trabalhadores veem o empreendedorismo precário como única saída, tornando-se suscetíveis a discursos de extrema direita.
Essa precarização, somada à reforma trabalhista de 2017, contribui para a insatisfação em setores que tradicionalmente compunham a base de apoio do PT. Singer destaca a necessidade de o partido se aproximar dessas novas realidades, sem aderir à ideologia do “salve-se quem puder”.
Desafios eleitorais e a extrema direita
A ascensão de figuras como Pablo Marçal, outsider da política, e o vácuo deixado pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro demonstram o vigor da extrema direita no Brasil. Contudo, Singer observa que, isolada, essa corrente não consegue vencer. Para 2026, ele prevê que o PT deverá repetir a estratégia de 2022, unindo forças com outros partidos para formar uma frente ampla em defesa da democracia.
O cientista político também enfatiza que o carisma de Lula, ainda central na política nacional, traz desafios de sucessão para o PT. Mesmo assim, Singer acredita que o partido possui estrutura para se manter relevante, desde que consiga dialogar com a nova classe trabalhadora e preservar sua identidade de esquerda.
Conexão com o futuro
Enquanto a base popular sustenta o governo, o PT precisa se adaptar às mudanças do capitalismo contemporâneo para ampliar seu alcance eleitoral. Singer ressalta que, em um cenário democrático, o campo popular continuará existindo e será decisivo na política brasileira. No entanto, caberá ao partido a sabedoria de se reorganizar e se preparar para um futuro sem Lula como figura central.
Essas análises foram originalmente divulgadas pelo O Farol Diário e destacam o cenário político atual e os rumos do lulismo no Brasil.
Agradecimentos a BBC: