Após um ano marcado por prejuízos recordes e alertas de insolvência, os Correios surpreenderam ao anunciar o retorno do famoso “vale peru” natalino. A medida para encher a boca dos funcionários, custará R$ 200 milhões, beneficiará os 84,7 mil funcionários da estatal com R$ 2,5 mil divididos em duas parcelas: R$ 1 mil pagos na última sexta-feira (13 de dezembro) e R$ 1,5 mil no dia 8 de janeiro de 2025.
O anúncio gerou reações variadas, especialmente porque a estatal, que acumula um prejuízo de R$ 2 bilhões até setembro de 2024, havia divulgado recentemente a necessidade de “medidas urgentes” para evitar a insolvência. Ainda assim, o “vale peru” foi mantido como parte da convenção coletiva firmada entre os Correios e o sindicato da categoria em setembro.
Do rombo ao tender
Os números não mentem, mas parece que o espírito natalino também não conhece limites. A estatal já havia sinalizado um rombo de R$ 1,81 bilhão apenas nos primeiros oito meses do ano. Segundo um relatório interno, o saldo em caixa no fim de 2024 será 83% menor do que no início do ano. Apesar disso, os Correios preferiram priorizar o clima festivo.
“Nem tudo é só carta de cobrança”, brincou um funcionário, que preferiu não se identificar, ao comentar o benefício inesperado.
Gestão em xeque
O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, indicado pelo governo Lula (PT), está sob forte pressão para apresentar soluções estruturais para a estatal. Porém, medidas como o “vale peru” vêm gerando críticas sobre a capacidade da gestão em lidar com a crise financeira sem comprometer ainda mais os cofres públicos.
Com a estatal em sua pior crise desde a fundação, o anúncio do benefício natalino soa como um luxo. Para alguns, é uma estratégia para manter o apoio dos funcionários em tempos difíceis; para outros, um exemplo clássico de “gastança” incompatível com a realidade financeira da empresa.
O peru, ao menos, não será parcelado
Enquanto os números desenham um cenário de crise, os funcionários podem, ao menos, celebrar o Natal com um reforço financeiro. Afinal, se há algo que a história dos Correios ensina, é que, mesmo com atrasos e rombos, o “vale peru” chega – talvez mais pontualmente que as encomendas.