Uma eventual exclusão do Brasil do sistema de posicionamento global (GPS), controlado pelos Estados Unidos, reacendeu o debate sobre soberania tecnológica e risco de vigilância estrangeira. A possibilidade teria sido cogitada pelo ex-presidente Donald Trump como forma de pressionar o governo Lula, em meio ao recente agravamento das tensões diplomáticas entre os dois países, segundo políticos da oposição.
O GPS, ferramenta essencial no cotidiano digital e na infraestrutura moderna, é de propriedade exclusiva do governo norte-americano. De aplicativos populares como Google Maps e Waze até a agricultura de precisão e o controle de tráfego aéreo, o sistema é indispensável. E o Brasil, que nunca investiu de fato em uma alternativa nacional, depende inteiramente de sua continuidade para manter serviços básicos funcionando.
Caso os EUA rompam com o Brasil nesse setor, restariam apenas as alternativas internacionais — entre elas, o sistema russo Glonass, o europeu Galileo, o japonês QZSS e, especialmente, o BeiDou, da China. Este último é mantido pelo regime comunista chinês e já opera globalmente. Em sua própria divulgação oficial, Pequim admite que o BeiDou serve, também, aos “interesses de segurança nacional” da China.
Com mais celulares do que pessoas no Brasil — são 258 milhões de dispositivos ativos para uma população estimada em 200 milhões —, o risco de entregar tamanha massa de dados ao Partido Comunista Chinês levanta um alerta geopolítico. Toda movimentação física do cidadão médio, do tratorista ao ministro de Estado, pode ser monitorada e registrada em tempo real. No caso do BeiDou, esse controle pode não estar mais nas mãos do Ocidente.
A crise evidencia não apenas a fragilidade brasileira diante da dependência tecnológica, mas também o risco crescente de cair em zonas de influência hostis à liberdade individual. Como analisa O Farol Diário, ao ignorar por décadas o investimento em soberania digital, o Brasil coloca sua segurança – e a privacidade de seus cidadãos – nas mãos de potências estrangeiras com agendas próprias. Entre ser vigiado por Washington ou por Pequim, o ideal seria não ser vigiado por nenhum.