Com uma ambição declarada de liderar o movimento de eletrificação veicular na África, a Etiópia adotou medidas drásticas para impulsionar a substituição de carros a gasolina por elétricos. Desde janeiro, o país proibiu a importação de veículos particulares a combustão e elevou o preço dos combustíveis em 8%, buscando incentivar o mercado elétrico e reduzir custos de importação de combustível fóssil. Essa estratégia também visa destinar recursos a projetos de energia sustentável, como uma nova hidrelétrica no Alto Nilo. No entanto, a política encontrou resistência prática, revelando dificuldades de infraestrutura que travam o plano ambicioso.
A entrada anual de 100 mil carros elétricos no país, em uma frota de 1,2 milhão de veículos, mostra a seriedade das políticas do governo, que espera aumentar esse número para 500 mil até 2030. Empresas como a Hyundai já estão comprometidas em produzir veículos elétricos localmente, vislumbrando um mercado de alta demanda. A presença crescente de veículos chineses de baixo custo e uma variedade de modelos de marcas internacionais criam a impressão de que a Etiópia está avançando rapidamente. Porém, a realidade mostra uma infraestrutura limitada, com apenas três oficinas especializadas e uma rede quase inexistente de pontos de recarga.
A população etíope enfrenta sérias dificuldades para manter seus veículos elétricos, seja pela escassez de peças ou pela falta de técnicos qualificados. O custo de importação, elevado devido à restrição a veículos a gasolina, torna os carros elétricos uma opção quase inevitável, mas não necessariamente viável. Com preços semelhantes aos de modelos usados a combustão, muitos consumidores optam pelos veículos elétricos apenas para logo enfrentar problemas com recargas e manutenção.
Diante do cenário, as críticas à política de eletrificação aumentam, e consumidores abandonam os carros elétricos em busca de alternativas. Para contornar essa crise, o governo promete criar uma rede nacional de pontos de recarga e investir mais na geração elétrica. No entanto, sem avanços imediatos, o projeto de eletrificação da Etiópia corre o risco de se tornar inviável, evidenciando a necessidade de uma estrutura sólida antes de impulsionar mudanças tão significativas.