A crise no Sistema Único de Saúde (SUS) atinge níveis alarmantes, conforme revelado por dados obtidos pelo jornal O Globo junto ao Ministério da Saúde. Atualmente, 5,7 milhões de brasileiros aguardam uma consulta com especialistas e 600,4 mil esperam por uma cirurgia. A espera média para procedimentos cirúrgicos já chega a 52 dias, seis vezes mais que em 2013, enquanto o tempo para consultas especializadas triplicou em relação a 2010, alcançando 57 dias. Para piorar, a ausência de informações regulares e consistentes de 13 estados – incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – impede uma real compreensão da gravidade do problema.
A falta de dados confiáveis sobre o tempo de espera no SUS é um dos maiores entraves para a sua gestão eficiente. Apenas após questionamentos da imprensa, o Ministério da Saúde anunciou a criação de um novo sistema de monitoramento. No entanto, a medida chega tarde e sem garantias de que trará resultados efetivos. O apagão de informações compromete não só o planejamento, mas também a transparência do governo em uma das áreas mais sensíveis para a população.
Embora a pandemia tenha agravado o problema ao suspender atendimentos não urgentes, o crescimento das filas não é recente. Desde 2019, os gastos federais com saúde aumentaram 22% em termos reais, alcançando R$ 202 bilhões em 2023, impulsionados pelo fim do teto de gastos. Ainda assim, a situação só piora. Parte do problema está na distribuição ineficiente dos recursos, inflada por emendas parlamentares que destinam verbas de forma política, sem priorizar as regiões com maior demanda. Em 2023, R$ 27 bilhões foram alocados dessa maneira, ampliando distorções no sistema.
Criado em 1988, o SUS é uma conquista da população brasileira, mas sua precarização crescente exige medidas urgentes. Sem informações precisas e uma gestão competente, a fila do SUS se torna uma sentença de sofrimento para milhões. O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tem agora a responsabilidade de reverter esse quadro. Caso contrário, ele e o presidente Lula sentirão o peso dessa crise nas próximas eleições.