CBF acumula vitórias na Justiça, mas sob críticas e suspeitas
Reportagem publicada na edição de abril da revista Piauí lança luz sobre os bastidores jurídicos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), apontando gastos elevados, decisões judiciais relâmpago e indícios de favorecimento em julgamentos. Segundo a matéria, a entidade gastou mais de R$ 24 milhões com advogados e acordos, em meio a disputas que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Um dos casos analisados envolve o bloqueio de R$ 52 milhões das contas da CBF, determinado em 2021 por conta de uma ação do clube cearense Icasa. A confederação contratou um advogado por R$ 5,7 milhões, pagou à vista e obteve, em apenas um dia, uma liminar suspendendo a dívida. O tempo médio para decisões semelhantes no STJ, segundo o Conselho Nacional de Justiça, era de 55 dias à época.
Outro episódio controverso foi o afastamento do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, em dezembro de 2023. A confederação recorreu ao STF e contratou um escritório por R$ 6,5 milhões, com pagamentos questionados pela revista quanto à data e validade dos serviços prestados. Mais grave, porém, foi a mudança inesperada do relator do caso, que acabou nas mãos do ministro Gilmar Mendes — sócio do IDP, parceiro educacional da CBF desde 2023.
A recondução de Ednaldo foi autorizada por Mendes, sem que o magistrado se declarasse impedido, mesmo com o vínculo comercial entre seu instituto e a entidade. O Farol Diário ressalta que, embora as vitórias judiciais sejam legítimas, os caminhos utilizados para alcançá-las levantam sérias dúvidas sobre a imparcialidade e a transparência do sistema jurídico brasileiro.
O caso é um exemplo claro de como poder, influência e conexões institucionais moldam o futebol nacional longe dos gramados. A ausência de cláusulas de desempenho em contratos milionários e a proximidade entre julgadores e partes interessadas reforçam a percepção de que a elite do esporte opera sob um manto de privilégio e blindagem jurídica.