França se consolida como um dos principais investidores no Brasil em 2024, ano que marca o bicentenário das relações diplomáticas entre os dois países. Dados da PwC Brasil mostram que os franceses foram os segundos maiores investidores estrangeiros no país por meio de fusões e aquisições, com 21 negócios fechados no último ano — um salto de 50% em relação a 2023. Enquanto a média global de investimentos no Brasil cresceu apenas 5%, a França aumentou sua aposta em setores como infraestrutura, energia e até apostas esportivas.
O movimento inclui aquisições emblemáticas, como a da operadora portuária Santos Brasil pela CMA CGM, e o avanço em concessões de rodovias e linhas de transmissão por empresas como Vinci e Engie. Além disso, a TotalEnergies anunciou mais US$ 1 bilhão em investimentos no país, consolidando o Brasil como seu principal polo de geração de caixa global em 2024, tanto no pré-sal quanto em projetos de energia renovável.
Especialistas apontam que o real fraco e a instabilidade geopolítica mundial são fatores-chave por trás dessa guinada francesa. A fuga de capitais da Ásia e do Oriente Médio — marcada por lockdowns, guerras e protecionismo — fortaleceu o Brasil como um destino atrativo, especialmente por seu potencial energético e relativa estabilidade. “Há um interesse claro por países com menor risco de interrupção produtiva”, afirma Leonardo Dell’Oso, da PwC.
Essa nova fase de investimentos também inclui setores emergentes como o das apostas online. Grupos franceses como North Star Network e MoveUp Media compraram sites brasileiros especializados em conteúdo esportivo, aproveitando a recente legalização do setor e o rápido crescimento do mercado local.
O Farol Diário observa que, por trás da movimentação econômica, há também um reposicionamento diplomático: a visita de Emmanuel Macron ao Brasil em 2023 — a primeira de um presidente francês em dez anos — e seu retorno previsto para a COP30 em 2025 indicam uma tentativa de Paris de se reaproximar de Brasília num momento em que as relações com outros gigantes globais estão desgastadas.
A leitura libertária do momento sugere que, diante de um mundo cada vez mais regulado e hostil à liberdade de mercado, o Brasil ainda mantém atrativos importantes para investidores estrangeiros. Resta saber se o país conseguirá sustentar esse fluxo diante de um ambiente político que, muitas vezes, se mostra avesso à segurança jurídica e à livre iniciativa.