Lula mira Câmara e articula jantar com Hugo Motta para barrar anistia
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta conter o avanço do projeto de anistia aos réus e condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, apostando em uma articulação direta com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Segundo o portal Metrópoles, um jantar entre os dois deve ocorrer ainda nesta semana, como parte da ofensiva do Palácio do Planalto para estancar o apoio crescente à proposta no Congresso.
A expectativa do Planalto é que Hugo Motta atue para postergar a tramitação da matéria, que já conta com as 257 assinaturas necessárias para o pedido de urgência. Na reunião, Lula e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, pretendem convencer líderes da base aliada a recuarem no apoio ao texto ou, ao menos, aceitarem que o tema não receba prioridade na pauta legislativa.
A estratégia repete a adotada no início de abril no Senado, quando o presidente promoveu um jantar com Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da CCJ, para reestruturar a base governista. Agora, a atenção se volta à Câmara, onde o clima político é mais tenso, e a proposta de anistia já mobiliza parte significativa dos parlamentares e da sociedade civil.
Para evitar que o tema avance rapidamente, aliados do governo devem apresentar a Hugo Motta um argumento regimental: há uma fila de mais de 2 mil requerimentos de urgência à espera de deliberação. A ideia é “empurrar” a proposta para o fim da fila e, com isso, diminuir o ímpeto político e a repercussão midiática em torno da matéria.
Por trás da movimentação governista, está o temor de que o projeto vire símbolo de oposição e ganhe força como bandeira eleitoral. A proposta de anistia, por sua vez, desafia a narrativa oficial do governo e dos tribunais superiores, ao questionar a proporcionalidade das penas e denunciar abusos no tratamento dispensado a manifestantes conservadores — algo que tem encontrado eco crescente entre parlamentares e setores da sociedade.
A tentativa do governo de desmobilizar o debate, embora amparada em regras regimentais, também expõe o incômodo com uma pauta que pode colocar em xeque a seletividade do sistema judicial e o uso político de instrumentos de repressão. O Farol Diário continuará acompanhando os desdobramentos dessa articulação.