Depois de quase duas décadas de queda contínua, a proporção de norte-americanos que se identificam como cristãos mostra sinais de estabilização — e um fator inesperado lidera essa mudança: a religiosidade da Geração Z. Jovens nascidos após o ano 2000 estão, em contraste com seus pais, menos inclinados a abandonar a fé, enxergando nela uma forma de resistência contra uma cultura dominante que despreza valores tradicionais.
Segundo o mais recente Religious Landscape Study, conduzido pelo Pew Research Center, 63% dos americanos hoje se declaram cristãos, uma leve alta em relação ao mínimo histórico de 60% registrado em 2022. O dado reforça uma tendência de cinco anos de estabilidade, após um período de declínio acentuado. O estudo mostra que o padrão de queda geracional — visível ao longo do século XX — parece ter sido interrompido entre os nascidos nos anos 2000.
Esse movimento reflete também um realinhamento político. O cristianismo tornou-se um marcador identitário mais forte entre conservadores, cuja adesão caiu apenas sete pontos percentuais desde 2007, enquanto entre progressistas a redução foi de 25 pontos. Atualmente, conservadores têm 45 pontos percentuais a mais de probabilidade de se identificarem como cristãos em comparação aos progressistas.
Especialistas ouvidos pelo O Farol Diário destacam que esse fenômeno pode ser um efeito reverso das derrotas culturais acumuladas pelo cristianismo desde os anos 1960 — como a retirada da oração das escolas ou a redefinição de direitos civis. Paradoxalmente, o enfraquecimento da influência cristã abriu espaço para um renascimento silencioso, impulsionado por jovens que rejeitam o culto à autonomia pessoal e buscam um sentido mais profundo, ancorado em valores de sacrifício e comunidade.
A crescente atração por formas tradicionais de culto, como o cristianismo ortodoxo e o catolicismo de rito antigo, reforça essa tendência. Missas com jovens de terno e mulheres com véus são hoje uma cena comum em várias cidades americanas. Ainda é cedo para dizer se o cristianismo caminha para um renascimento sólido, mas tudo indica que as novas gerações têm papel decisivo nesse futuro. Como lembrava o arcebispo Fulton J. Sheen: “Os adolescentes querem se entregar a algo que valha a pena morrer”. Talvez tenham reencontrado esse algo.