O Farol Diário – O Brasil registrou a menor taxa de fecundidade da sua história: apenas 1,6 filho por mulher, de acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022 divulgados pelo IBGE. O número está bem abaixo da taxa de reposição populacional de 2,1 filhos por mulher — índice mínimo necessário para garantir que a população se mantenha estável ao longo das gerações.
A queda acompanha uma tendência global entre países que passaram por forte urbanização e crescimento educacional. Ainda assim, o ritmo da redução surpreende: nos anos 1960, a média era de 6,3 filhos por mulher. Em 2000, caiu para 2,4. Agora, em 2022, atinge 1,6 — um nível que coloca o Brasil abaixo dos Estados Unidos (1,7) e da França (1,8), embora ainda acima de Argentina (1,5), Chile (1,3) e Itália (1,2).
O declínio da fecundidade varia entre regiões e grupos sociais. O Sudeste registrou a menor média (1,41), enquanto o Norte ainda mantém os maiores índices (1,89). Mulheres indígenas têm, em média, 2,8 filhos, enquanto as brancas apresentam a menor taxa, com apenas 1,4. A escolaridade também pesa: mulheres com ensino superior completo têm média de 1,2 filho, contra até 2 entre as menos escolarizadas.
Religião também influencia os números. Evangélicas lideram com média de 1,7 filho, seguidas por católicas (1,5). Espíritas apresentam a menor taxa de fecundidade (1,0). A maternidade tardia também cresce: a idade média para ter o primeiro filho subiu para 28,1 anos, com destaque para o Distrito Federal, onde a média é de 29,3.
Outro dado relevante é o crescimento do número de mulheres que chegam ao fim da vida reprodutiva sem filhos: em 2022, 16% das mulheres entre 50 e 59 anos não tiveram filhos — um salto em relação aos 10% registrados em 2000. O fenômeno é atribuído à busca por realização profissional, mudanças culturais e um modelo de vida urbana que desestimula famílias grandes.
O dado chama atenção para o futuro demográfico do país: com a fecundidade abaixo do nível de reposição e o envelhecimento acelerado da população, o Brasil pode enfrentar desafios sociais e econômicos graves nas próximas décadas. E, apesar dos alertas de especialistas, políticas públicas muitas vezes priorizam questões ideológicas em detrimento de uma análise pragmática e estrutural da crise populacional que se desenha.