Porque não sou de esquerda

Por Professor Leonardo Lisboa

Existe uma consciência dominante no seio da sociedade brasileira que caracteriza o indivíduo de direita como um representante da burguesia, ávido por aumentar sua riqueza, indiferente ao próximo e avesso a questões de cunho moral.

Enquanto que no outro lado do espectro político temos a visão do poeta que combate a repressão do sistema capitalista, munido tão somente de palavras e flores. O militante de esquerda é percebido em grande parte como sendo um soldado que combate as injustiças do mundo globalizado, protetor dos fracos e oprimidos.

Essas duas visões são distintamente equivocadas, pois ignoram que foram os ‘‘poetas’’ que levaram a sociedade a testemunhar um mar de sangue, foram os militantes revolucionários que nos deixaram de legado as guilhotinas, os gulags e alguns regimes ditatoriais que perduram até os dias atuais.

Dos que acreditam nisso, são poucos os que se aprofundaram nas consequências das revoluções de esquerda e do rastro de morte deixado por essa ideologia que prega paz e amor, mas cultiva guerra e ódio.

A consciência coletiva que povoa a mente dos brasileiros ignora em grande medida que o homem de direita pode ser também um indivíduo forjado no ideal da honra e do dever, um sujeito que sacrifica sua vida pessoal em prol da ordem social.

Um estatista em primeiro grau que compreende a importância de preservar as instituições milenares e não entregar o futuro da sociedade na mão de revolucionários de botequim que prometem o paraíso terrestre, mas acabam em grande medida fazendo o inferno na própria terra.

Imagens idealizadas como essa, movem ou comovem muito mais do que esclarecem qualquer que seja seu espectro político, seja por consciência própria.

Em verdade, muitos militantes e jovens de esquerda somam fileira ao exército de bobos. Sinceros, mas bobos.

Nelson Rodrigues afirmava que ‘‘Não há nada mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer’’. Nada tenho a acrescer ao ensinamento do mestre Nelson Rodrigues.

Hoje, como professor, lidando diariamente com adolescentes, noto que essa é uma verdade absoluta. São muitos os jovens que são convertidos aos ideais de esquerda ainda na escola – eu mesmo fui um deles. O discurso é sedutor e cai como uma luva aos jovens incautos. A tenra idade comum a todo jovem é acompanhada em grande medida por um senso revolucionário que nos faz questionar tudo e todos.

O jovem é revolucionário por excelência, eu também era. De minha família, recebi carinho e valores, mas não uma formação política. Minha mãe, D. Josefa, mulher de fibra, dedicou décadas ao serviço doméstico em casas alheias, mas avessa a grandes questões políticas.

Meu pai, Sr. Sebastião, é um democrata de grande estirpe, ofende igualmente a todos os políticos, dedica os mais inusitados impropérios para a classe política, é daquele cidadão que vota apenas por ser obrigatório, faz coro a milhões de brasileiros que pensam da mesma forma.

Seria pedir demais de meus pais que me fornecessem uma opinião política calcada nos grandes clássicos da literatura política ou que eu compreendesse ainda na adolescência os nuances do sistema político e como este acaba por afetar nossa vida nos mais variados sentidos.

É de uma insanidade monumental acreditar que o ideal de esquerda que defende o agigantamento do Estado a proporções estratosféricas irá acabar com o Estado. Sua defesa é justamente no sentido oposto, a luta pela manutenção do Leviatã é uma consequência natural dos meios defendidos pelos ditos revolucionários de esquerda, pois uma vez conquistado o controle do poder nenhum revolucionário abrirá mão do poderio. O monstro tenderá a crescer e governará de forma autoritária os indivíduos, surrupiará as liberdades individuais e assassinará as mentes discordantes.

A história contemporânea é repleta de exemplos categóricos que apenas confirmam o meu ponto. A verdade é que nenhum regime político matou mais do que os regimes de esquerda.

O Livro Negro do Comunismo traz a público o saldo estarrecedor de mais de sete décadas de história de regimes de esquerda: massacres em larga escala, deportações de populações inteiras para regiões sem a mínima condição de sobrevivência, expurgos assassinos liquidando o menor esboço de oposição, fome e miséria provocadas que dizimaram indistintamente milhões de pessoas.

Enfim, a aniquilação de homens, mulheres, crianças, soldados, camponeses, religiosos, presos políticos e todos aqueles que, pelas mais diversas razões, se encontraram no caminho de implantação do que, paradoxalmente, nascera como promessa de redenção e esperança.

Os historiadores mais conservadores afirmam que pelo menos 100 milhões de mortes foram causadas por regimes socialistas/comunistas. Esse número assustador ultrapassa amplamente, por exemplo, o número de vítimas do nazismo e até mesmo das duas guerras mundiais somadas.

Finalizo dizendo que todos aqueles que de algum modo tomaram ou ainda tomam parte na aventura comunista neste século estão, doravante, obrigados a rever suas certezas e convicções. Não quero zombar sobre os corpos deitados ao chão na busca pela revolução de esquerda. Quero honrá-los e lutar para que isso não se repita mais.

Por essa cristalina razão, decidi e decido não ser de esquerda, convido você, leitor, a fazer o mesmo, ou ao menos considerar. Não é um caminho fácil. É preciso esforço e dedicação. Mas ao nosso lado repousa a verdade, e penso que isso basta.


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Conheça o autor do texto

O professor Leonardo Lisboa é especialista em ciências humanas pela PUCRS e assessor parlamentar.

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