Chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi formalmente indiciado pela Polícia Federal por envolvimento direto em ações para atrapalhar investigações no chamado caso da “Abin paralela”. O relatório final, divulgado nesta semana, atribui ao diretor-geral os crimes de prevaricação, coação no curso do processo e obstrução de justiça. Nomeado em 2023 pelo presidente Lula, Corrêa é apontado como figura central na tentativa de encobrir o uso ilegal do sistema First Mile para monitoramento indevido.
De acordo com o documento da PF, Corrêa teria atuado para blindar o então diretor de Operações de Inteligência, Paulo Maurício Fortunato, transferido por ele para um cargo estratégico. Mesmo antes de sua nomeação oficial, em maio de 2023, Corrêa já exercia influência dentro da Abin e tinha conhecimento de práticas ilegais herdadas da gestão anterior. A Polícia afirma que ele participou de reuniões destinadas a desviar a investigação para o âmbito interno da agência e impedir colaborações espontâneas com a Justiça.
Um dos episódios mais graves relatados envolve a então corregedora Lidiane Souza dos Santos, que teria sofrido assédio moral e perseguição após apoiar a apuração da PF e da CGU. Corrêa teria classificado a Corregedoria como “bandalha” e articulado uma intervenção agressiva, culminando na substituição de Lidiane por José Fernando de Moraes Chuy, responsável por elaborar um suposto dossiê contra a equipe anterior.
O relatório também destaca que Corrêa usou sua posição para omitir provas, se recusou a entregar nomes de usuários do sistema ilegal e minimizou violações de sigilo funcional. Servidores relataram, sob anonimato, que ele teria afirmado que “às vezes temos que ir até o limite do precipício”, numa tentativa de justificar as práticas ilegais dentro da agência.
O caso reforça os questionamentos sobre a politização de órgãos de inteligência e o uso estratégico de cargos públicos para proteger aliados e minar investigações legítimas. A escalada autoritária disfarçada de institucionalidade, frequentemente atribuída a governos passados, parece seguir seu curso mesmo sob nova direção. O Farol Diário seguirá acompanhando os desdobramentos desse caso que expõe as entranhas do poder sob o verniz da legalidade.